Estou participando da terceira edição da ação de extensão Evolução das Instituições de Saúde: Um Olhar Interdisciplinar, na qual são realizadas visitas à alguns hospitais de Porto Alegre e região, conhecemos suas histórias, suas origens, seus funcionamentos, fatos históricos que aconteceram, mudanças ao longos dos anos, etc. Já visitamos o Hospital Psiquiátrico São Pedro e o Sanatório Partenon, foram duas experiências bastante enriquecedoras em informações e curiosidades. Ainda visitaremos, até o final do ano, a Santa Casa e o Hospital Colônia de Itapuã. :)
Nas Upps de Promoção II e de Políticas II tivemos o conhecimento das principais Conferências de Saúde, os temas abordados e os resultados que elas trouxeram para as políticas em saúde. Em exemplo é a 8ª Conferência, na qual estava presente, entre outros membros, o médico sanitarista Sérgio Arouca (já havia postado sobre o debate dele na 8ª Conferência), que foi um dos principais momentos da luta pela universalização da saúde no Brasil. Segundo LUZ (2000: 302) “a intensa movimentação da sociedade civil teve um papel muito importante para a aceitação, na política oficial, das propostas da VIII Conferência Nacional de Saúde, em grande parte consubstanciadas no SUS”. Esse marco representou uma ruptura inédita com a história anterior das políticas sociais brasileiras, ao garantir o acesso à saúde como direito social universal. No ano que vem (2015) será realizada a 15ª Conferência Nacional de Saúde, os temas até então abordados para debate são: 1) garantir o direito universal à saúde; 2) as desigualdades sociais e territoriais; 3) ampliar e defender o SUS público, de qualidade e para todos; 4) fortalecer e legitimar a participação social; e 5) ampliar e qualificar a representatividade do controle social. Maria do Socorro, presidente do Conselho Nacional de Saúde, apontou os objetivos para o debate para a 15ª que levam em consideração a realização de um balanço da participação social nos 25 anos de conferências, a realização de um levantamento acerca de tendências observadas em relação às conferências nacionais de saúde de 1986, a proposição de princípios e diretrizes anuais e ainda preliminares para a organização da 15ª Conferência Nacional de Saúde. Nesse sentido, ressaltou que “politica de participação social tem muitos méritos, mas peca quando nivela os conselhos, como se fossem apenas consultores”.
Ontem na UPP de Promoção II assistimos a um vídeo da 8ª Conferência Nacional de Saúde com Sergio Arouca, discutimos os conceitos narrados por ele (Ciclo Econômico da Doença) e pudemos fazer uma análise crítica da história do SUS no Brasil e grandes eventos como este. Achei muito interessante pois analisando os acontecimentos e eventos de saúde como por exemplo a Declaração de Alma-Ata, que foi uma conferência internacional sobre cuidados primários de saúde na qual o Brasil não participou e hoje podemos perceber que um dos principais países, senão o único, que realmente implantou as Unidades Básicas de Saúde foi o Brasil. Outro evento foi a Conferência Internacional de Promoção de Saúde (Carta de Ottawa) que buscava contribuir para as políticas de saúde de todos os países de forma equânime e universal, neste contexto então e também com outras premissas foi-se constituindo a base do SUS.
Sergio Arouca, além de outros assuntos importantes, fala sobre os indicadores sociais de saúde |(a partir de 1:29 min.) que ampliam a definição de saúde-doença. Ele ressalta que os componentes de uma vida digna vão desde trabalho, habitação, alimento até vestimentas e se esses direitos não forem atendidos, haverá doença e nunca será alcançada a possibilidade de se viver uma vida digna.
Atualmente falamos muito sobre Vulnerabilidade que nos permite lincar com o Ciclo Econômico da Doença e com os indicadores sociais. O ciclo econômico da doença seria a falta de condições que determinada população possui de trabalhar, estudar, morar em um lugar que possua saneamento e fazer parte da sociedade dignamente, ou seja, essa população acaba se tornando vulnerável a problemas de saúde tanto físicos como mentais. Todas as questões que fazem parte do contexto do local onde vivemos constituem os indicadores sociais de saúde. Os piores indicadores desencadeiam maiores índices de vulnerabilidade e portanto maiores riscos de determinada população adquirir doenças ou vícios. Para que a saúde possa ser garantida, todas as redes de atenção devem levar em consideração os indicadores e darem maior atenção às populações vulneráveis.
Em meio a debates e diversas
aulas que já tivemos, um dos principais assuntos que abordamos é o tratamentohumanizadoque deve ou deveria acontecer não só
no SUS, mas em qualquer instituição que lide com seres vivos. Pesquisei um
pouco sobre esse assunto e descobri que, na verdade, existe umaPolítica Nacional de Humanização,
mesmo que na prática ela talvez não esteja sendo completamente executada.
Alguns aspectos que eu considerei extremamente importantes nessa política:
- Valorização dos diferentes
sujeitos implicados no processo de produção de saúde: usuários, trabalhadores e
gestores;
- Fomento da autonomia e do
protagonismo desses sujeitos;
- Estabelecimento de vínculos
solidários e de participação coletiva no processo de gestão;
- Identificação das dimensões de
necessidades sociais, coletivas e subjetivas de saúde;
- A troca e a construção de
saberes;
- O trabalho em rede com equipes
multiprofissionais, com atuação transdisciplinar;
- O resgate dos fundamentos
básicos que norteiam as práticas de saúde no SUS, reconhecendo os gestores,
trabalhadores e usuários como sujeitos ativos e protagonistas das ações de
saúde;
- A construção de redes
solidárias e interativas, participativas e protagonistas do SUS.
E seus princípios norteadores:
- Valorização da dimensão
subjetiva, coletiva e social em todas as práticas de atenção e gestão no SUS,
fortalecendo o compromisso com os direitos do cidadão, destacando-se o respeito
às reivindicações de gênero, cor/etnia, orientação/expressão sexual e de
segmentos específicos (populações negra, do campo, extrativistas, povos
indígenas, remanescentes de quilombos, ciganos, ribeirinhos, assentados, etc.);
- Fortalecimento de trabalho em
equipe multiprofissional, fomentando a transversalidade e a grupalidade;
- Apoio à construção de redes
cooperativas, solidárias e comprometidas com a produção de saúde e com a
produção de sujeitos;
- Construção de autonomia e
protagonismo dos sujeitos e coletivos implicados na rede do SUS;
- Co-responsabilidade desses
sujeitos nos processos de gestão e atenção;
- Fortalecimento do controle
social com caráter participativo em todas as instâncias gestoras do
SUS;
- Compromisso com a
democratização das relações de trabalho e valorização dos trabalhadores da
saúde, estimulando processos de educação permanente;
- Valorização da ambiência,
com organização de espaços saudáveis e acolhedores de trabalho.
História contada em forma de cordel que fala sobre os direitos do cidadão na rede SUS.
Semestre passado estudamos sobre os tipos
de tecnologias empregadas na área da saúde, na UPP de Políticas I, um breve
resumo do que foi visto é que "Para Merhy,
as tecnologias podem ser classificadas como leve, leve-dura e dura. Todas
tratam a tecnologia de forma abrangente, mediante análise de todo o processo
produtivo, até o produto final. As tecnologias leves são as das relações; as
leve-duras são as dos saberes estruturados, tais como as teorias, e as duras
são as dos recursos materiais.". Quando vi a seguinte reportagem
sobre um aplicativo que auxilia os usuários a escolher o hospital para
atendimento associei esse fato aos tipos de tecnologias estudadas.
"Idealizado
por uma startup gaúcha, um aplicativo pretende ajudar pacientes a enfrentar as
filas e as longas horas de espera em unidades de pronto atendimento e hospitais
de todo o Brasil. O Aga Emergência, disponível desde a última sexta-feira para
celulares com o sistema Android, é um projeto da Aga Health, com sede em Carazinho.
O
app pesquisa os endereços dos serviços de urgência e emergência em um raio de
até 25 quilômetros, permitindo que o usuário escolha para onde se dirigir de
acordo com a lotação e o tempo previsto de espera. O funcionamento é semelhante
ao do Waze, para o trânsito, que estima o tempo de deslocamento e o melhor
percurso – as informações são inseridas pelos próprios usuários nos dois casos.
–
O aplicativo funciona se as pessoas informarem a situação da emergência onde
estão. Ele depende da população – salienta o cirurgião
otorrinolaringologista Geraldo Jotz, professor da Faculdade de Medicina da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)."
Penso que este tipo de tecnologia, com certeza, auxilia muito os
usuários do Sistema Único de Saúde, porém, o que deve ser repensado é a forma
de acessibilidade dessa tecnologia, visto que nem todas as pessoas possuem
celular ou celular com aplicativos. A ideia que me ficou em mente foi a de
fazer essa mesma estratégia, porém, por meio de um 0800, disponibilizando um
maior acesso à toda a população. Vivemos num tempo em que tudo funciona e
se estabelece via internet e tecnologias cada vez mais avançadas, temos
capacidade de criar e também de adaptar essas tecnologias de acordo com as
demandas da sociedade.
Estou no segundo mês do segundo semestre e posso dizer que esses meses já estão sendo muito importantes e riquíssimos em informações e experiências "práticas". No semestre passado estudamos, resumidamente, o conceito de saúde e doença, os modelos hegemônico e biomédico e algumas bases da saúde coletiva e da saúde pública. Já no semestre atual estamos aprendendo mais especificamente sobre como se estruturam os modelos assistenciais de saúde, a história e estrutura do SUS, o que é e como se articulam as redes de cuidado, como pesquisamos indicadores em base de dados, a vigilância epidemiológica (seus conceitos e práticas) e também questões ambientais como aquecimento global, poluição, saneamento básico e a lei nacional do meio ambiente, que por sinal, faz parte do sistema de saúde.
Dentro dessas UPP'S estamos em desenvolvimento de trabalhos de campo sobre doenças transmissíveis, cartografia de cidades, entre outros que, com certeza, nos colocarão mais próximos das áreas de atuação do sanitarista. Na UPP de Tópicos Integradores em Saúde Coletiva II estamos discutindo e analisando materiais sobre atenção psicossocial na área da saúde mental que é um assunto que me interessa muito e que falarei mais sobre durante as postagens seguintes. Penso que cada um desses trabalhos e vivências vão se "encaixando" e formando redes das áreas que nós, sanitaristas, atuaremos no futuro.
Falta mais ou menos uma semana para o encerramento do 1° semestre e eu posso dizer que, realmente, ele foi uma experiência um tanto quanto enriquecedora em todos os sentidos. Tivemos, além de muito aprendizado sobre a saúde pública e a saúde coletiva, também vivências em cenários que atuaremos futuramente, como sanitaristas, como por exemplo: visitas a emergências de hospitais, palestras sobre educação em saúde, promoção e vigilância e sobre projetos inovadores na área da saúde.
Para mim, poder olhar para a história da saúde pública, perceber quais foram seus sucessos e fracassos, aprender o que a saúde coletiva busca para a melhoria dessa saúde foram um dos principais aprendizados durante o semestre. A saúde coletiva, assim como eu já havia falado, busca uma ressignificação da saúde pública, com novas diretrizes e olhares diferentes. Entender que o ser humano necessita não somente de remédio ou cirurgia para a cura, mas de um atendimento humanizado, em que todo o seu contexto é levado em consideração, essa é uma questão que eu nunca havia parado para pensar, mas que hoje ela faz todo o sentido e que, com certeza, faz uma imensa diferença (para melhor) no processo saúde-doença.
Agora, eu aguardo ansiosamente pelo 2° semestre e que ele seja tão enriquecedor quanto o anterior. E viva a saúde coletiva!!!
Imagem da mandala feita pela minha turma. Ela ilustra as diferentes práticas terapêuticas (fizemos uma pesquisa com diferentes pessoas sobre "como se cuidam").
O documentário é grande mas vale a pena assistir e conhecer esse interessante e inovador trabalho que reúne saúde, arte, cultura e ciência. Esse é um bom exemplo que ilustra a importância da cultura e de diferentes práticas terapêuticas no processo saúde-doença e também na melhoria do SUS.
Investimento em Parteiras e Parteiros profissionais podem salvar milhares de vidas, diz ONU
" Um relatório lançado nesta terça-feira (3) pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), em conjunto com a Confederação Internacional de Parteiras (ICM), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e parceiros, revela que os principais déficits na força de trabalho das parteiras e parteiros profissionais – enfermeiros/as obstetras e obstetrizes – ocorrem em 73 países onde esses serviços são mais necessários. O relatório recomenda novas estratégias para enfrentar esses déficits e salvar milhões de vidas de mulheres e recém-nascidos. Os 73 países da África, Ásia e América Latina – entre eles, o Brasil – representados no relatório “O Estado da Obstetrícia no Mundo 2014: Um Caminho Universal – O Direito da Mulher à Saúde” respondem por 96% do total global de mortes maternas, 91% dos natimortos e 93% das mortes entre recém-nascidos, mas têm apenas 42% das parteiras/os profissionais, enfermeiras/os e médicas/os de todo o mundo. O relatório defende o investimento dos países em educação obstétrica e treinamento para contribuir na redução das diferenças gritantes existentes. Investimentos em educação e treinamento em obstetrícia alinhados com padrões internacionais podem produzir – como mostra um estudo de Bangladesh – um retorno de 1.600% do recurso aplicado."
“As parteiras e os parteiros profissionais contribuem enormemente para a saúde de mães e recém-nascidos e o bem-estar de toda a comunidade. O acesso a cuidados de saúde de qualidade é um direito humano básico. Maior investimento em obstetrícia é chave para tornar esse direito uma realidade para mulheres em todos os lugares”, disse o diretor executivo do UNFPA, Babatunde Osotimehin.
Achei muito interessante esse relatório, pois ele coloca um problema grave de alguns países, inclusive o Brasil, que é a mortalidade materna e infantil (com estatísticas que mostram a gravidade dele) como uma responsabilidade do nosso Sistema de Saúde e mais interessante ainda é que os investimentos para a melhora desses eventos buscam uma forma mais humanizada e consideram importante uma tradição cultural que são as parteiras. Essa é uma das provas que o campo da saúde oferece para mostrar que o sistema de saúde precisa de uma visão holística de suas práticas terapêuticas e que ela é importante para a redução desses problemas.
Realizando uma reflexão crítica da charge acima, observamos a imagem do médico que, por ter conhecimentos da medicina que adquiriu ao longo do seu curso, defende e difunde o que é normal. E em termos de conhecimento sabemos que esse conceito de normalidade é baseado em médias estatísticas e números que consideram o que é desejável e aceito em um determinado momento e sociedade. Observamos também a barreira que ele e talvez a sua profissão "impõem" diante do paciente, uma barreira que não admite críticas ou mudanças, pois até então, o que ele diz que é normal é que deve ser considerado o "normal universal".
Será mesmo que essa normalidade pode ser utilizada para definir o que é saudável e o que não é? Mesmo diante das diversidades culturais que nos cercam, as pessoas de diferentes culturas (que vivem em diferentes ambientes com alimentações e estilos de vida diferentes) devem possuir os mesmo níveis de medidores do que é saudável? Com certeza não e essas são algumas das questões críticas que o modelo biomédico e hegemônico nos mostra diante de suas práticas.
O conceito de saúde(normalidade) vai muito além de médias estatísticas universalizadas, o médico deveria possuir uma visão holística e sociopsicossomática que vê o paciente não apenas como um corpo doente mas como um ser humano (assim como o próprio médico), deixar um pouco de lado a sua visão técnica e colocar em prática um papel também de ouvinte do paciente. Essas são algumas das ações que "quebrariam" pelo menos, inicialmente, esse paradigma da barreira entre médico e paciente.
O texto de Paulo Freire propõe a ideia de que o mundo ainda está em construção e que nós possuímos o papel de "transformadores" desse mundo. Ele aponta a necessidade de enxergarmos os problemas presentes como uma oportunidade de mudança, que a não adaptação ao problema é importante para que ocorra a mudança, de fato.
Enxergamos um milhão de problemas atualmente no mundo, desde falta de alimentação até falta de moradia ou mesmo de direitos sociais, muitos pensam que esses problemas não podem ser resolvidos por nós, cidadãos, porém, essa é uma visão muito limitada tanto quanto equivocada, uma vez que a articulação e o "funcionamento" desse mundo foram realizados por nós. Obviamente existem graus de poderes diferentes, poderes hierarquizados que "comandam" mais, entretanto fazemos parte e somos atores do mundo da história, da cultura, da política e etc. E possuímos a capacidade de intervir nessas articulações.
Somos seres pensantes, capazes de decidir, escolher, intervir, criar, reivindicar e talvez não eliminar todos os problemas existentes, mas sim diminuí-los. Devemos sair do estado de inércia, seja intelectual ou prática, devemos colocar em prática o que estudamos e acreditamos que seja correto. Esses são pontos chave para que haja o desenvolvimento da autonomia individual que auxiliará nem um verdadeiro papel de transformadores do mundo.
Reflexão crítica sobre o texto de Paulo Freire: "Ensinar Exige a Convicção de que a Mudança é Possível" (Livro: Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 6 edição. São Paulo; Paz e Terra, 1997. P.85-6.)
Aqui se inicia uma nova trajetória na minha vida, fui aprovada na Ufrgs no Curso de Bacharelado em Saúde Coletiva, é uma enorme satisfação e orgulho de mim mesma e ao mesmo tempo um novo desafio. As minhas expectativas com o curso são as melhores, visto que é um curso no qual tem como intuito a melhoraria e talvez a "ressignificação" do Sistema Único de Saúde, fazer parte disso com certeza me proporcionará muitas histórias que serão registradas neste blog.
Este não é o meu primeiro contato com a saúde, pois fiz 3 semestres de Psicologia em outra instituição, não conclui o curso mas ele continua sendo um dos meus preferidos campos de saberes. E isso provavelmente vai ser refletido, de modo a agregar, em assuntos da saúde coletiva com a psicologia que também registrarei nesse blog. :D